Morre Dercy Furtado, primeira vereadora eleita de Porto Alegre e mãe do cineasta Jorge Furtado

  • 21/07/2024
(Foto: Reprodução)
Filho confirmou o falecimento nas redes sociais. Dercy também foi deputada, comentarista de TV e historiadora. Dercy Furtado (à esquerda) na Câmara de Vereadores, em 2017, junto com jornalista e cientista política Télia Negrão Elson Sempé/Câmara de Vereadores de Porto Alegre Morreu na madrugada de domingo (21) a primeira vereadora eleita de Porto Alegre, Dercy Furtado, segundo confirmou o cineasta Jorge Furtado, filho de Dercy, em postagem nas redes sociais. Leia abaixo o texto na íntegra. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp "Dercy viveu 96 anos, e não veio ao mundo a passeio. Deixa uma história de vida muito bonita e muita saudade", diz Furtado. A ex-vereadora tinha 96 anos e faleceu em casa. Ela deixa seis filhos – além de Jorge, Cláudio, Sérgio, Nina, Maria da Graça e Thaís – 14 netos e 11 bisnetos. Atuante no trabalho social e na igreja, candidatou-se à Câmara de Vereadores da Capital em 1972, quando foi eleita com 10,2 mil votos. Antes dela, somente Julieta Battistioli havia ocupado uma vaga no Legislativo municipal, na década de 40, porém como suplente. Em 1975, Dercy foi eleita deputada estadual, a terceira mulher a ocupar o cargo. "Ela fez um projeto, na década de 1970, que retirava do Estatuto do Funcionalismo Público a obrigatoriedade das mulheres trabalharem de saia. Sim, as funcionárias públicas gaúchas não podiam usar calças compridas no trabalho até a década de 1980", relata Jorge Furtado. Dercy também foi comentarista de programas da RBS TV. Aos 70 anos, entrou no curso de História, se formando aos 74. Jorge Furtado e a mãe, Dercy, em 2023, durante entrega do livro "Câmara e Memória" Gabriel Ribeiro/Câmara Municipal de Porto Alegre Texto de Jorge Furtado Minha mãe, Dercy Furtado, faleceu esta madrugada, em sua casa, em Porto Alegre. Morreu aos 96 anos, deixando 6 filhos, 14 netos, 11 bisnetos, muitos amigos. Teve uma vida longa e extraordinária. Nascida numa família pobre em Morungava, município de Gravataí, imigraram para Porto Alegre em 1934. Meu avô, Melíbio, conseguiu um emprego de cozinheiro num hotel. Minha avó, Etelvina, deixou a carreira de professora municipal para cuidar dos 5 filhos. Dercy só pode estudar até os 14 anos, largou a escola para trabalhar numa fábrica de ampolas de vidro, um trabalho duríssimo. Aos 17 anos voltou a estudar, no Senai, onde conheceu meu pai, Jorge, seu professor de português. Em três anos, estavam casados. Vieram os filhos e o trabalho social na igreja, no MFC (Movimento Familiar Cristão), onde se deparou com a exploração às empregadas domésticas e com o papel subalterno das mulheres, que tinham as vidas determinadas ao nascer: casar, ter filhos, cuidar da casa. Dona Dercy não gostou do que viu e resolveu lutar para mudar as coisas. Sua luta social – foi a primeira a propor carteira assinada e aposentadoria para as empregadas domésticas, a primeira a falar em “planejamento familiar” com educação sexual nas escolas - a levou à política. Fez suas campanhas sempre “Em defesa da mulher”, foi a primeira vereadora eleita de Porto Alegre, em 1972. Se elegeu e reelegeu deputada estadual, lutou pelas mulheres até se aposentar. Aos 70 anos, ingressou e cursou a faculdade de História, formou-se com 74 anos. Durante sua carreira política, ela promoveu muitos congressos, escreveu livros, fez muito sucesso na rádio, e apresentou dezenas de projetos de lei, cito dois que me parecem bons exemplos do seu pioneirismo e do atraso do país. Ela fez um projeto, na década de 1970, que retirava do Estatuto do Funcionalismo Público a obrigatoriedade das mulheres trabalharem de saia. Sim, as funcionárias públicas gaúchas não podiam usar calças compridas no trabalho até a década de 1980. Dercy também fez um projeto para retirar do Código Civil o "erro essencial sobre a pessoa do outro cônjuge”, artigo que permitia ao marido, ao descobrir que a noiva não era virgem, anular o casamento. Este absurdo perdurou, acreditem, até 2001. Dercy viveu 96 anos, e não veio ao mundo a passeio. Deixa uma história de vida muito bonita e muita saudade.

FONTE: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2024/07/21/morre-dercy-furtado-primeira-vereadora-eleita-de-porto-alegre.ghtml


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